Momento Chester Carlson da Teledramaturgia Brasileira

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Pois é... Eu admito! Assisti "alguns” capítulos de Caras e Bocas. Podem me jogar na fogueira! Mas antes de pagar pelos meus pecados... Preciso desabafar: ô novela cheia de “referências”! Macacos me mordam, Batman!

Com o perdão do momento Xiita, até entendo a importância do uso de referências no processo criativo, mas definitivamente não digiro seu uso indiscriminado. Acho que existe uma tênue linha entre uma produção original (embasada em uma pesquisa coerente) e o ato de brincar de lego com a idéia dos outros.

Pego no pé por um motivo muito simples: o público. Infelizmente, poucas são as produções, que informam ao telespectador as suas bases de inspiração. Por essa linha de raciocínio, pergunto: quem no fim leva o crédito?

Samples, remakes, versões... A lista do grupo de risco é grande. Todas essas produções esbarram na mesma questão: qual parcela da população de fato conhece as obras anteriores que colaboraram com a elaboração desse trabalho? Eis aí o perigo do delito! Sem saber de qual lugar essas idéias aparecem, o crédito tende a ficar com o último que as utilizou.

Até então não pesam os amuos: o trabalho novo serviria, supostamente, para conservar e divulgar aos novos grupos bons trabalhos, mesmo que por vezes obscuros. Mas e aí? Quantos dos mestres da arte do uso da referência de fato citam a matéria-prima “reciclada” em seu material?

Se a conta cessou entre os dez dedos da sua mão, você (assim como eu) acabou de encontrar um novo problema para debater!

Não falo aqui diretamente dessa novela. Não falo também que Walcyr Carrasco trabalha necessariamente na base da cópia. Simplesmente jogo uma observação. Tem quem conceba essa forma de criar como algo positivo assim como tem quem a tome como algo negativo. Há ainda aqueles – e esse é o meu caso – que sentem algo positivo e negativo ao mesmo tempo. Algo que fascina desconfortavelmente.
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Confesso que não sou uma telespectadora assídua. Contudo, encontrei, no mínimo, quatro referências que “já vi em algum lugar”. Provavelmente não são as únicas, mas ficam aí os exemplos. Não comento mais nada... Deixo apenas a idéia no ar.

1) Sintaxe da Linguagem visual da Abertura:



Capa do livro de Donis Dondis, "Sintaxe da Linguagem Visual":


2) Momento Sundance Festival Tupiniquim:



... Cena do filme "A Pequena Miss Sunshine"



2)Momento ninguém segura a rainha do polvilho:



(adiante até 1:09)

... Alguém se lembra da cena final do filme "Ninguém Segura Esse Bebê?"



4)Momento Camila de Nazaré:

Caras e Bocas (2009):



Laços de Família (2000):




5) Momento Aurélia Camargo do século XXI (aka.: O casal mais pentelho do ano):



Folhetim que é folhetim, funciona no papel e na tv, né?
O casal Milena e Nicholas que diga!
Aurélia Camargo é o nome da heroína do romance de José de Alencar, Senhora. Nessa obra, a pobre moça/moça pobre – se apaixona por um caça dotes chamado Fernando. Depois de tomar um pé na bunda do espertalhão do Fernando, a mocinha descobre que ficou rica (sabe aquela herança que você sonha um dia descobrir que tem? Pois é... Só em folhetim mesmo...). Junto com o dinheiro, aparece uma nova chance de se casar com o amor de sua vida de mulher de malandro. Destinada a se vingar da decepção amorosa, Aurélia se casa com o rapaz... E vira a pessoa mais pentelha do mundo. Pentelha mesmo! Cri-cri de galocha! Entre essa vingança pueril e o amor ferido pelo orgulho, o casal redescobre a verdadeira paixão. Nesse tempo, Fernando também descobre novos valores para a sua vida. É a história fictícia de uma redenção que nutre um romance tipicamente água com açúcar, ovacionada pelas provas de vestibular das universidades do Brasil... Se você, cara criatura, é um pouco preguiçosa e desgosta do prazer ofertado pelos clássicos da literatura da língua portuguesa, fica uma dica bem amiga da onça: se joga na novela do macaco! É quase tudo a mesma coisa...

(Eu não sou a única a ver isso!)

Se o hóspede quer bananas, eu quero citações!

4 Responses on "Momento Chester Carlson da Teledramaturgia Brasileira"

  1. to gostando do levantamento que você tá fazendo.

    uma dica: leia "a angústia da influência", de Harold Bloom.
    acho que vai ajudar o trabalho do blog.

    "Pego no pé por um motivo muito simples: o público. Infelizmente, poucas são as produções, que informam ao telespectador as suas bases de inspiração. Por essa linha de raciocínio, pergunto: quem no fim leva o crédito? "

    Porra Lise (ou Livia, ou quem escreveu o post) deixa de ser academica chata - agora quer nota de rodape em filme e novela?

    Imagine se Blade Runner, Star Wars, Aventureiros do Bairro Proibido e Matrix nos letreiros indicassem de onde chuparam cada um dos elementos? Nao ia sobrar espaca p/ listar a equipe.

    Referencias e citacoes sao a alma de qualquer obra de arte, principalmente as narrativas.

    Shakespeare nunca usou um plot original. Dumas idem. Tolkien nem preciso falar, etc...

    Acho que a birra do post eh mais com referencias e citacoes toscas que beiram a copia do que com as referencias em si.

    (mas o post esta legal - otimas observacoes e comparacoes)

    “Porra Lise (ou Livia, ou quem escreveu o post) deixa de ser academica chata - agora quer nota de rodape em filme e novela?”

    Que interpretação extremista, Márcio! (Tua cara fazer isso, alias...).
    O objetivo não é pedir nota pra tudo. É lógico que referencias e citações são essenciais, mas é fato que tem muito inocente que desconhece que criações, toscas ou não, têm seu ponto de partida de algum outro lugar. Esse blog só tenta quebrar um pouco essa idéia ao propor algumas trocas de informações!
    ;)
    Simples e despretensioso assim!

    obs 1 – Não é a Lívia que escreve aqui! É a Ligia... E ela não sofre de academicices como eu sofro (ela é o ponto de equilíbrio - ainda bem!).
    obs 2 - tem post do Shakespeare e do Gregório de Matos pra sair ainda! Calma!)

    Unknown says:

    ha. na novela caras e bocas, asisti um "remake/adaptacao" do fantasma da opera. a cena era de tao mal gosto que, se eu nunca tivesse visto a peca original ao vivo, e meu unico conhecimento sobre o fantasma da opera fosse o q meus olhos viram na globo, eu juro que teria escolhido "hair spray" ao invez de O fantasma da opera na Broadway.
    dai o perigo de nuam dar creditos ao criador da peca.